Outro dia, ao olhar no espelho, vi-me
envolvido por escura e densa névoa, como se meu rosto estivesse coberto por
grossa fumaça. Assustei-me e imaginei que poderia estar sendo alvo de agressão
espiritual ou sutil obsessão. Fechei e abri rapidamente os olhos na expectativa
de que a visão se dissipasse. Para meu espanto, lá estava a mesma imagem.
Aquietei-me e pude “ouvir”, dentro de mim mesmo, uma voz que dizia tratar-se de
representação de uma parte de minha personalidade, não revelada e que eu não
deveria esquecer, mas que, de forma alguma, era ameaçadora; disse-me que eu
deveria entender que em mim há sombra e luz; que todas as vezes que tentasse
enxergar a sombra no outro, a minha realçava. Sempre que admitisse minha
sombra, a névoa deixaria ser atravessada pela luz que emana de meu ser.
Compreendi a lição e aceitei conscientemente meu próprio mal, não mais
acreditando tratar-se de algo externo. A voz me aconselhou acolher a sombra
pessoal.
Acredito que é necessário muita coragem para aceitar nossa sombra.
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