segunda-feira, 12 de abril de 2010

Saudade

Sinto saudades... De uma pessoa que não sei quem é, mas sei que ela existe, que também está conectada a mim e que, talvez, onde esteja, também anseia por encontrar-me. Sinto saudade de um lugar, em algum lugar, onde meu coração viveu plenas alegrias e gozou de imensa felicidade. Um lugar onde o bem prosperou e o amor fez sua morada. Sinto uma saudade imensa de passear livremente, sem tempo, sem pressa e sem obrigações para com o corpo. Mesmo me sentindo pertencente, daqui não sou, nem me limito a lugar algum. Mesmo prisioneiro do corpo, sei da possibilidade de romper com seus limites e de me lançar para além de mim mesmo, em comunhão com o que me criou. Minha saudade é minha certeza do além de mim e da consciência da eternidade em tudo. Sinto saudades... De uma luz que me guia e me oferece a suave e doce presença da divindade que a tudo permeia. Uma presença que se traduz em certeza, segurança e harmonia. Minha saudade é a companheira a me consolar nas perdas, pois me sinaliza a fugacidade do momento presente, projetando-me para o futuro e para o supra-arquetípico. Satisfazê-la totalmente é como perder o gosto bom da transcendência da vida.

7 comentários:

  1. Peço desculpa aos meus irmãos, mas ao ler este texto, não pude parar de pensar no poema seguinte, e gostaria de partilhálo:

    Saudade, Silêncio e Sombra de Nuno Lorena

    A saudade meu amor
    É o martírio maior
    Da minha vida em pedaços
    Desde a tarde desse dia
    Em que ao longe se perdia
    Pra sempre o som dos teus passos

    Saudades fazem lembrar
    Silêncios do teu olhar
    Segredos da tua voz
    E essa antiga melodia
    Que o vento na ramaria
    Murmurava só pra nós

    Lembras-te daquela vez
    Quando eu cantava a teus pés
    Trovas que não tinham fim
    Quando o luar prateava
    E quando a noite orvalhava
    As rosas desse jardim

    Jardim distante e deserto
    Sinto tão longe e tão perto
    O passado que te ensombra
    Devaneio, irrealidade
    Silêncio, sombra, saudade
    Saudade, silêncio e sombra

    Quem gostar de fado, pode ouvir a Teresa Tarouca
    http://www.youtube.com/watch?v=fBAZwFKzv0k
    (quando ouço choro sempre)

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  2. Adenáuer!
    Oh, querido, obrigada!
    Como foi bom encontrar e ler o que dizes aqui.
    Que a saudade continue sendo do tipo que fortalece e nos lembra do "gosto da transcendência da vida, do além de nós e também nos traga consciência da eternidade em tudo".
    Quero esta saudade, a saudade do eterno, que está além,...pois aqui onde estamos tudo passa.

    Sinto saudade do Amor...

    Seu texto me fez viajar...nas entrelinhas.

    Beijos.

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  3. As primeiras cinco linhas deste texto expressam fidedignamente um estranho sentimento com o qual convivo desde a infância: a saudade de alguém e de algum lugar que não sei exatamente onde estão e se de fato existem.

    Se não acreditasse na pluralidade das existências, certamente me julgaria louca.

    Os riscos de ter esse tipo de sensação são estar sempre em busca de algo que você não sabe exatamente o que é (e, como não encontra, sofre) e/ou ficar em um constante (e também frustrante) estado de espera.

    Conviver com esse sentimento é muito difícil... Mas ele ficou suave nas suas palavras, Adenáuer.

    Em diversas poesias, tentei traduzir isso tudo. Uma delas está postada em:
    www.misteriosacaixa.blogspot.com/2009/09/anjo-perdido.html

    Abraços.

    P.S.: E para o colega que gosta de fados, a música “Haja o que houver”, de Madredeus, também expressa um pouquinho esse tipo de sentimento.

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  4. Também eu sinto essa saudade, essa sensação de pertencimento a alguém, num outro tempo, noutro espaço... e isso me motiva na caminhada terrena; é uma saudade da presença, do amor, do verdadeiro e mais puro amor - aquele que transcende e ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço, da vida e da morte.
    Adenauer, muito grata por tocar em pontos tão especiais de nossa vida e nos fazer refletir, londe das adversidades do cotidiano, sobre quem somos, que estamos fazendo e para onde dirigimos nossa vida.
    Jesus ilumine seu caminhar, nosso caminhar.
    Paz e luz e beijos de saudades, pois quem sabe, não somos daqueles (nós todos que compartilhamos esse blog) que nos ligamos por laços mais fortes que os do sangue, e por isso mesmo nos (re)encontramos por aqui e partilhamos os mesmos pensamentos, numa sintonia que por si só é de amor...!?

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  5. Gostei muito do texto, retrata fielmente esse sentimento de saudade de algo que não sei explicar exatamente. Parece que sinto falta de pessoas e lugares que não conheço. De uma vida que não é a minha vida. Nesses momentos sinto a transitoriedade das coisas e tenho a forte impressão de que o meu verdadeiro lar está bem além dos breves momentos que passamos nesse mundo.

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  6. Ao ler seu texto, foi como estivesse me revelando a mim mesmo...A saudade inexplicável...A tristeza inexplicável...O amor que (acho) nunca senti, mas sei que está aqui. Que conceito cru sobre mim mesmo... e vc nem me conhece...
    Que Deus te abençoe.

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  7. Lindo!!! Adorei este seu texto sobre saudade!!! Ate junho no KSSF!!! Obrigada por ser fonte de inspiracao e aprendizado.. um abraco

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